Enxergando o mundo como crianças Andrea Pavlovitsch

Minha sobrinha está com três anos. Aquela idade da birra e de se jogar no chão do supermercado para comprar mais uma porcaria com algum personagem de desenho que, meticulosamente, são colocados na altura dos olhos deles. Ela não quer saber, quando quer, quer. Quando não quer, não quer. Discute, xinga, bate, faz qualquer coisa para que seus desejos não sejam contrariados. Entende tudo do que jeito que quer, só fala o que vier na cabeça e às vezes eu brinco com ela “larga a mão de ser infantil” só para brincar mesmo e ela não entender, claro. Tudo isso é perfeitamente normal e aceitável para uma criança a idade dela. Ela está aprendendo, está se adaptando ao mundo. Dá um trabalhão para os pais, mas faz parte do processo dela. Normal.

O duro é quando vemos pessoas de 18, 20, 30 e 40 anos fazendo isso e às vezes muito pior. Aquela coisa de achar que tudo é pelo lado pessoal e não encarar a realidade de nada. Sim, às vezes não é possível fazer uma coisa naquela hora, naquele minuto. Precisamos esperar para ter uma recompensa mais próxima daquilo que realmente almejamos na vida, isso é ser adulto. Isso é ter decisões de adulto, maduras e que te levarão a algum lugar.

Existe uma experiência, liderada pelo psicólogo Walter Mischel, então professor da Universidade de Stanford, que foi feita nos anos 60, com crianças. Elas entravam numa sala e lá dentro estava um pequeno prato com um marshmallow. A pesquisadora dizia que a criança poderia comer aquele naquele momento mas, se aguardasse 15 minutos, ganharia outro. Algumas crianças esperaram e os psicólogos analisaram o que elas faziam para “aguentar”. Algumas enfiam o marshmallow na boca e nem pensavam que poderiam ganhar outro. As crianças foram acompanhadas por alguns anos e constatou-se que, as crianças que conseguiam esperar, tinham mais êxito na vida, enquanto as outras tomavam mais decisões erradas e não tinham tanto sucesso.

A experiência é um ícone da psicologia e nos mostra a capacidade de sermos adultos. Mesmo usando as crianças. Saber esperar pelo momento certo, pela coisa certa a se fazer ou adiar uma recompensa é uma arte para gente madura. A maioria prefere viver o que o “coração” sente naquele momento (na verdade, são os desejos e não o coração) a ter coisas mais duradouras. E numa sociedade de consumo imediato e desenfreado isso parece ainda mais correto.

Ser adulto é saber cuidar de si mesmo. E para cuidar da gente precisamos de uma coisa chamada disciplina. O problema da disciplina não é ela em si, todos os seres humanos podem ser disciplinados se não tiverem algum problema neurológico envolvido, mas a disciplina nos obriga a olhar para a realidade. E é aí que somos eternas crianças.

Olhar a realidade é saber exatamente o que está acontecendo, sem fingir que aquilo não existe. Olhar os nossos sentimentos, as nossas sensações. Outro dia vi um programa de TV onde um rapaz havia conseguido encontrar um câncer de intestino por ter assistido um programa anterior que falava dos sintomas. Ele pensou “Estou com os sintomas que o programa fala. Vou ao médico” e encontrou um tumor. Conseguiu fazer o tratamento e está bem agora, mas precisou olhar para a realidade. A vida trouxe pra ele um programa de TV para que ele se salvasse, e ele poderia não ter dado a menor bola. Quantas outras pessoas assistiram o programa, viram que sentem as mesmas coisas, mas simplesmente ignoram? Não querem ir ao médico porque, vai que ele acha alguma coisa, né? Não tem realidade. E quantas pessoas já pagaram com a vida com essa mania de criança de viver na fantasia?

Crescer é dolorido. É complicado ser gente grande. Mas também é a única coisa que pode nos fazer realmente felizes. Que tal olhar pra os sintomas (da sua vida, do seu corpo, da sua vida financeira) e simplesmente encarar a realidade? Parar de comer um só marshmallow e ficar com a recompensa maior depois? Tentar uma coisa nova, para variar, e ver a sua vida mudando assim, na sua frente. Não é o caminho mais fácil e nem o mais simples. Mas é, com certeza, o único que nos realiza. Ou nos salva a vida. Quem sabe?

Andrea Pavlovitsch
http://diadediva.blogspot.com
@dekapavlovitsch

Livro: Cá... entre nós

Colaboradora do Portal Esotérico: Andrea Pavlovitsch é psicoterapeuta, numeróloga e escritora. Para informações sobre atendimentos e para receber artigos pelo e-mail contate andreapavlovitsch@gmail.com

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